Viajando de motorhome: antes e depois da compra da geladeira

22 de dezembro de 2020
Viajando de motorhome: antes e depois da compra da geladeira

Sair por aí de motorhome é, na minha opinião, uma das coisas mais libertadoras que se pode experienciar quando o assunto é viajar! Para nós, essa experiência já é bem comum, mas aquele comum que ainda dá frio na barriga pela expectativa que causa. Porém, muitos ainda não entendem esse tipo de gente que escolhe ‘morar’ dentro de um carro. E sim,  muitos viajantes querem rodar o país, e até o mundo, em seus motorhomes, e por isso fazem do possante sua morada por meses, e até anos. Acho massa demais, inclusive quero, mas essa ainda não é nossa realidade. Ainda. E, na verdade, não dá pra explicar que tipo de gente é essa, porque, acredite, tem gente de todo tipo! O que eu posso fazer é contar um pouquinho da nossa experiência, e é isso que pretendo neste post. 

 

Eu não sei dizer exatamente quando comecei a querer uma casa motorizada, mas tem a ver com minha mudança do Paraná para Florianópolis-SC. Nas idas e vindas para visitar a família, ao longo dos mais de 1000 km de distância, eu ficava olhando a ‘beira da estrada’ e pensando sobre o que poderia ter por ali, que morro era aquele, como era o interior daquela cidadezinha pela qual eu sempre passava, mas nunca conhecia de verdade. 

 

Era um pouco frustrante ver a mesma coisa tantas vezes, mas nunca vê-la de verdade: afinal, num carro comum, as paradas têm que ser programadas e, se forem demoradas, é preciso pensar em hotéis para passar a noite e, com isso, organizar horários específicos, orçamento, enfim, todo um planejamento que acaba tirando um pouco o charme da experiência. No fim das contas, mantinha o foco no destino final e seguia viagem. E foi assim até que, conversando com meu namorado e parceiro atual de viagens, descobrimos que compartilhávamos essa curiosidade pelas paisagens escondidas no trajeto, e a ideia até então utópica de ter um motorhome pareceu a coisa mais natural do mundo para nós dois. Natural e urgente! Dessa percepção até comprarmos nossa van (@van.bora, também chamada carinhosamente de “Mafalda”) foi rápido, e hoje já conhecemos diversos cantinhos especiais, antes ocultos às margens dos caminhos por onde eu passara tantas vezes.

 

Mas, diferente de alguns kombeiros e vanzeiros (será que inventei essa palavra agora?) que são wild style, ou seja, curtem o estilo rústico de estacionar em qualquer lugar, sem se preocupar muito com infra-estrutura, banheiros, energia elétrica e wi-fi, nós, até hoje, só ficamos em camping. E não é porque somos frescos ou medrosos (talvez seja um pouquinho por isso), mas porque, embora nossa casinha já tivesse, desde que montamos ela pela primeira vez, quase tudo que precisávamos, faltava um item importantíssimo para que tivéssemos a autonomia necessária para termos maior liberdade com relação ao lugar onde iríamos estacionar: uma geladeira. Pode até parecer luxo para alguns, mas eu vou te convencer, a seguir, de que, assim como na sua casa, uma geladeira no motorhome é artigo de primeira necessidade! 

 

Água gelada

 

Vamos começar pelo essencial: água. E mais essencial ainda nesse Brasil tropical: água gelada! Sério, não sei dizer quantas vezes, em viagens longas, ficamos sem água, ou sem água gelada, e isso é péssimo. O que a gente utilizava antes da geladeira era uma garrafa térmica de 5 litros, que quebra muito o galho, mas, se encontrar água pode não ser tão difícil assim, não podemos dizer o mesmo sobre o gelo. Sim, eu sei que tem gelo no mercado e nas lojas de conveniência do posto de gasolina, mas se você está relaxando num camping, ao lado de uma cachoeira, há dezenas de quilômetros de qualquer indício de civilização, não vai querer sair só pra comprar gelo, não é?

 

Itens perecíveis

 

No café da manhã tem requeijão, manteiga e, às vezes, uma geleia. Tem leite também. No lanche da tarde pode ter azeitonas, milho em conserva, ovo de codorna, vinagrete, húmus (eu amo!). Antes de dormir, voltamos pro leite. Não, não é indicação de dieta! É só pra dizer que esses rituais de comilança – para além do almoço e janta – ficavam meio interditados enquanto estávamos na casinha sobre rodas  porque toda essa galera que citei precisa ficar refrigerada, o que nem sempre era possível. E para mim, que tenho estômago meio chatinho e preciso comer mais ou menos as mesmas coisas sempre, isso pesava bastante, até mesmo me deixando com menos disposição para curtir o lugar em que estava. Não preciso nem dizer que esses itens têm lugar especial garantidíssimo na nossa geladeira, né?

 

Comida (pré) pronta

 

Eu concordo que cozinhar no acampamento é um dos rituais mais gostosos da experiência de acampar. Pegar o fogãozinho, organizar as panelas, colocar a mesa do lado de fora pra bater papo com os ‘vizinhos’ enquanto prepara o rango é, sem dúvidas, um momento muito prazeroso. Mas há situações em que você não quer passar tempo cozinhando, porque há outros lugares ou outras coisas acontecendo, e você quer estar lá. Ou será que isso só acontece comigo? 

 

Vou fazer um relato rápido para me explicar melhor: no ano passado (2019), fomos à Flip, a Feira do livro de Paraty, RJ, e ficamos em um camping perfeito, super bem localizado, com espaço e estrutura para cozinhar, a qual usamos para fazer o almoço, no primeiro dia. Acontece que, nessa feira, a programação é intensa, e segue, sem pausas, até 9 ou 10 da noite. E eu, que sou apaixonada por tudo que rola por lá, não queria perder nada. Resultado: enquanto cozinhávamos, eu não consegui curtir o momento como normalmente curto porque, simplesmente, não conseguia parar de pensar em tudo o que estava deixando de prestigiar no evento. Por isso, nos outros dias, acabamos comendo em restaurante ou mesmo barraquinhas de rua, só porque era mais rápido e porque não tínhamos que sair do local do evento. E claro que as comidas locais são ótimas, mas no final das contas, o orçamento estourou consideravelmente. 

 

Agora que compramos nossa geladeira, o plano é sempre deixar alguns pratos básicos prontos ou semi-preparados, de forma que, se for o caso,a  gente consiga preparar uma refeição bem feita, saudável, nutritiva e, principalmente, sem perder tempo. Arroz, feijão, hambúrguer, salada, grão de bico, lentilha, legumes e folhas refogados, enfim, há uma gama imensa de alimentos que, por alguns dias, podem ficar na geladeira e só precisam de um aquecimento rápido e voilá, já podem ser servidos. Confesso que, de todas as melhorias que temos feito na nossa Mafalda, a instalação dessa geladeira era meu sonho de princesa.

Relax time

 

Viajou o dia todo e finalmente achou o ponto ideal pra se esconder do mundo? (acho que já deu pra perceber que a gente gosta de um esconderijo, né? hehe) Até eu que não sou de cerveja acho que esse é o momento perfeito para abrir uma bem gelada. E se puder ser a sua favorita, então, bah… aí é tri!! – Como diriam meus amados amigos gaúchos! Mas, se pro meu namorado e parceiro de viagens, paraíso se soletra C-E-R-V-E-J-A, eu, que não aprecio o gosto amargo da cevada, também curto meu momento relax com meus bons vinhos. Ou licores. Ou caipirinhas. Enfim, destilados todos, uni-vos e vinde a mim! Antes da geladeira, meus amigos, nem sempre esse momento era possível, e o jeito era tentar nos convencer de que não precisávamos de álcool para relaxar. Nem sempre dava certo… e claro que tinha a opção de comprar cerveja no camping, mas vinho? Não preciso nem dizer, né? Brincadeiras à parte, de fato, não precisamos, e acredito que ninguém precise, mas é bom poder contar com essa opção, não é mesmo? 

Wild Camping

 

Eu disse antes que nós, até agora, só ficamos em campings particulares. Até agora!! Afinal, um dos maiores motivos para sentirmos necessidade de estarmos em um ambiente estruturado era justamente por precisar utilizar a geladeira do camping para guardar as bebidas, as sobras de comida etc. Mas, agora, com comida ou ingredientes necessários para fazer, aguinha gelada e outras delícias para refrescar o paladar, podemos começar a ousar um pouquinho mais, e ter uma liberdade ainda maior ao escolher o local para estacionar e passar uma noite, ou várias. 

Entretanto, e talvez nem se faça necessário dizer, é óbvio que não vamos sair estacionando em qualquer lugar, sem antes verificar questões de segurança. Queremos ser wild, mas nem tanto! 

Por fim, quero deixar claro que esse relato parte de uma experiência pessoal nossa, e acredito que, ao mesmo tempo que ele se aproxime da experiência de alguns viajantes, também se distancie da experiência de tantos outros, que rodam Brasil afora com uma caixinha térmica bem cheia, satisfeitos e felizes da vida. E está tudo bem. O que importa é que cada um que se jogue no seu sonho possa vivê-lo da maneira que lhe faça feliz! E nós temos sido imensamente felizes com a Mafalda, com tudo que ela tem nos oferecido, mesmo sem geladeira. A diferença é que, agora, ah… agora brindo essa alegria com uma taça de vinho bem gelado na mão.

Confira também: motor de frigobar

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